Resenha: AFRICAN-AMERICAN ECOLITERARY TRADITIONS: BLACK ON EARTH

RUFFIN, Kimberly N. African-American ecoliterary traditions: Black on Earth. University of Georgia Press Athens, Georgia. 2010. 212 p.
  
Wellington Neves Vieira[*]


            O livro African-American ecoliterary traditions: Black on Earth, de autoria de Kimberly N. Ruffin, professora de Inglês da Universidade Roosevelt, nos Estados Unidos não apresenta tradução na língua portuguesa, possui um sumário que está dividido em 5 capítulos, sendo eles, respectivamente: "Toil and Soil: Authorizing Work and Enslavement (p.25),York, Harriet, and George: Writing Ecologiacal Ancestors (p.56), Animal Nature: Finding Ecotheology (p.88), Bones and Water: Telling on Myth (p.111), I Got the Blues Epistemology: Thinking a Way out of Eco-Crisis (p. 136)”. Em seguida os agradecimentos da autora e introdução escrita pela própria autora ( p. 01- 24), notas de rodapé de cada capitulo (p.177 – 186) e, por fim, obras consultadas (187- 212).
Em linhas gerais a obra tem como escopo averiguar temáticas envolvidas nos discursos politizados dos escritores afro-americanos, mapeando lendas, tradições, os diversos modos de simbologias da natureza ligadas ao imaginário cultural e histórico, inclusive na relação com o imaginário norte-americano, elementos comuns na biodiversidade das obras afro-americanas. A sua abordagem permite uma vereda pela maquinaria literária.
A escolha do corpus atesta um primeiro passo, dos muitos que o seu livro percorre, na introdução explica e posiciona a sua obra em questionar a ordem discursiva do poder hegemônico dos brancos na qual o movimento ambiental é de caráter elitista que exclui a presença do negro. Em oposição a isso, Ruffin mostra a presença e a importância dos negros nos movimentos ambientais citando narrativas ecologicamente produzidas por negros, entre eles destaca-se o educador, escritor e crítico afro-americano Haki Madhubuti (p.6), com a publicação do livro, em 1995, Reivindicando a terra: raça, violência, estupro, redenção; negros buscando cultura de autocapacitação iluminada[†] (tradução nossa). É observado o autoconhecimento no conjunto de conflitos pessoais, sociais e econômicos sobre a longa duração que foi marcada em séculos anteriores pelos seus ancestrais.
O livro de Ruffinn, trata-se de um percurso que é antes de tudo feito de constelações, políticas, econômicas, filosóficas, religiosas, discursivas, apreendidas no segundo capítulo num objeto que é a leitura de uma política de resistência racial no início do século XX no espaço americana.  Além disso, afirma presença em várias áreas do conhecimento, posiciona-se de modo coletivo com o intuito de ganhar voz e se fazer presente na sociedade como os demais indivíduos sociais.
Ainda no segundo capítulo a autora cita o trabalho de Randall Robinson com o livro A dívida: o que a América deve ao negro[‡],publicado em (2000).  Mostra a relação existente entre os afro-americanos e a sociedade americana, bem como apresenta os negros estadunidenses que ajudaram a construir sua nação. Compreende que a industrialização, fruto do capitalismo selvagem, tem destruído as necessidades básicas do homem. E conclui que “os tributos aos antepassados afro-americanos não é nem uma parte significativamente visível da paisagem principal nem uma voz dentro das narrativas coletivas que abrangem a consciência da nação”[§] ( p. 70, tradução nossa).
Disto decorre um outro passo, que também é de grande importância na sua obra, o terceiro capítulo que trata da medicina popular dos afro-americanos baseado nos estudos de  Sharla Fett, que, em 2002, publica um livro que aborda as potencialidades de ervas selvagens descobertas pelos afro-americanos intitulado Trabalho das curas: saúde, cura e poder nas plantações dos escravos do Sul[**]. Nota-se neste capítulo que a biodiversidade por si só tem o potencial de revigorar a vida humana, é com base nas técnicas populares do uso e do resultado da medicina popular que os negros americanos atestaram a confiança na natureza, dessa forma, os afro-americanos sintonizam com a flora por ser um espaço que lhes faz bem, um local de extrema liberdade que possibilita a cura das doenças físicas e também da alma humana.
O quarto capítulo informar a respeito da importância das lendas e mitos dos negros americanos (p. 111), posiciona os lugares dos mitos e a função  do papel da visão ecológica para a criação das lendas e mitos afro-americanos, cuja intenção é representar mais fortemente a cultura da mãe África nas Américas.
            Em aspectos concentrados a espinha dorsal de sua pesquisa está no quinto capítulo, à procura de encontrar alternativas para a Eco-crise humana e não humana (p.136). A história dos negros é conhecida, sob o ponto de vista da dominação hegemônica, da dominação de humanos por humanos. Nessas condições, a autora, Ruffin enfatiza as hierarquizações existentes no tecido social, bem como a noção do próprio humanismo, o que é uma criminalização para a comunidade afrodescendente dos Estados Unidos. Se, por um lado, esse processo explica a contestação da humanidade africana, por outro, traz uma reflexão acerca da emergência de um apoio humanitário que desencadeia inúmeras formas e categorias de olhar para as comunidades afro-americanas de forma mais sensível.
A escritora Ruffin mantém em sua obra, “African-American ecoliterary traditions: Black on Earth, a positividade das abordagens literárias, analíticas, do texto literário de ordem filosófica e cultural. Respectivamente situadas na Ecocrítica que trata da relação Literatura e Meio Ambiente, na obra que ora resenha-se, a relação do negro norte americano com o meio ambiente pelo víeis literário parece cumprir a missão de quebrar a ótica pós-moderna, do individualismo do acúmulo de poder da classe branca e das relações de manipulação dos sujeitos.
 As abordagens de Kimberly N. Ruffin é uma dessas categorias, que incluem tipos de humanismo, modos de produção de vida das comunidades, expressa experiências com a natureza humana e não humana, obedece à condição natural do ser em sociedade, recobra a missão humana de unicidade, de divisão, de construir junto.
Enfim, Ruffin em suas práticas nos livra do vício de, a despeito das diferenças obtendo, em suas caixas de ferramentas, o discurso ativista pacificador, sem violência, a fim de garantir a paz humanitária. Esse processo é de suma importância para a tradição cultural da história ecoliterária dos afro-americanos.
            O seu livro contribui para o meio cientifico por mostrar que o campus literário é uma teia rizomática que permite mapear, cartografar, deslocar, desmontar, remontar, resignificar, multiplicar procurar trilhas de escape e encontrar na tradição ecoliterária afro-americana a diferença que faz diferença.
Vale salientar que a obra em questão é uma fonte riquíssima para professores, estudantes e pesquisadores que atuam na área da Literatura Afro-Americana, pois o livro traz ensinamentos a respeito das lendas, tradições, os diversos modos de simbologias da natureza ligadas ao imaginário cultural e histórico, inclusive na relação com o imaginário norte-americano.





[*] Mestre em Letras, área de Crítica Cultural pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB. Campus-II em Alagoinhas-BA. É professor titular da Faculdade Sete de Setembro-Fasete, em Paulo Afonso-BA e do Centro Universitário do Vale do São Francisco-CESVASF, em Belém do São Francisco-PE. Wellington.nevieira@gmail.com
[†] Original: “Claiming Earth: Race, Rage, Rape, Redemption; Blacks Seeking Culture of Enlightened Empowerment.” (p.6)
[‡] Original: “The debt: what America owes to blacks”(p.70) 
[§] Original: “His lament is that tributes to African American ancestors are neither a significantly visible part of the capital’s landscape nor a voice within the collective narratives that encompass the nation’s consciousness (p. 70). 
[**] Original: “Working cures: health, healing, and power on southern slave plantations”(p.88)