A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA PEQUENA

Cléia Conceição de Souza*
Amanda M. P. Leite

Resumo
Aqui apresentamos a contação de histórias e a sua influência na aprendizagem de crianças pequenas. A partir de uma pesquisa realizada como Trabalho de Conclusão de Curso no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins (UFT), pensamos sobre como acontece a contação de histórias na Educação Infantil, o que é necessário para esta prática, como a contação potencializa o desenvolvimento cognitivo, físico e emocional de crianças pequenas. O ato de contar histórias e estabelece relações com o conceito de imaginação e aprendizagem. Aqui dialogamos com Bruno Bettelheim (2004), Fanny Abramovick (1997), Gilka Girardello (2011) que nos ajudam a refletir sobre o próprio ato de contar histórias. Como os contos de fadas influenciam a Pedagogia e o trabalho com crianças pequenas?

Palavras-chave: Educação Infantil, Contação de Histórias, Imaginação

Resumen
Aquí está la narración de historias y su influencia en el aprendizaje de los niños pequeños. Salido de una encuesta realizada a partir del supuesto de finalización del trabajo en la Facultad de Educación de la Universidad Federal de Tocantins (UFT), pensamos en que pasa a la narración en la educación de la primera infancia, que es necesario para esta práctica, tales como cuentacuentos potencializa desarrollo cognitivo, físico y emocional de los niños pequeños. La narración y el establecimiento de relaciones con el concepto de la imaginación y el aprendizaje. Aquí dialogamos con Bruno Bettelheim (2004), Fanny Abramovick (1997), Gilka Girardello (2011) que ayudan a reflexionar sobre el acto de contar historias. Como los cuentos de hadas influyen en la pedagogía y el trabajo con niños pequeños?

Palabras clave : educación infantil , cuentacuentos , imaginación


Apresentação

Este ensaio aborda a temática da contação de histórias e a sua influência na aprendizagem de crianças pequenas. Aqui procuramos pensar sobre como acontece a contação de histórias na Educação Infantil, quais preparos são necessários para esta prática, de que forma a contação pode favorecer o desenvolvimento cognitivo, físico e emocional nas aulas com crianças pequenas. Trata-se de um desdobramento da pesquisa realizada em 2015-2016, apresentada ao Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins – campus Palmas/TO.
Nesta oportunidade exploramos o ato de contar histórias e estabelecemos relações com o conceito de imaginação e aprendizagem. A fundamentação teórica traz as contribuições de Bruno Bettelheim (2004), Fanny Abramovick (1997), Gilka Girardello (2011) que nos ajudam a refletir sobre o próprio ato de contar histórias. Partimos da seguinte questão: como os contos de fadas influenciam a Pedagogia e o trabalho com crianças pequenas? Na tentativa de responder esta questão exploramos o diálogo com professoras da Educação Infantil e trazemos o registro da experiência vivida por Cléia enquanto contadora de histórias numa reflexão sobre uma aposta educativa. Que história terá contado? Quais seriam as suas personagens? Que surpresas traria a narrativa? Qual seria o desfecho?

Os contos de fadas e a imaginação

“Ah! Como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias...”
 (ABRAMOVICK, 1997).

Crianças pequenas participam de narrativas e da contação de histórias. Muitas vezes o/a contador/a é interrompido/a por uma criança alucinada por poder falar ou continuar a contar. É através dos conflitos apresentados pelas histórias que as crianças se sentem desafiadas a participar direta ou indiretamente do enredo. As histórias oferecem novas dimensões à imaginação dos/as pequenos/as, que talvez eles/as não pudessem descobrir por si sós. Segundo Bettelheim, (1980, p.16), “as formas e estrutura dos contos de fadas sugerem imagem a criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção a sua vida”. Assim, ao ouvir uma história a criança pode construir suas próprias referências cognitivas, buscando respostas para diferentes fatos da história, de modo a transformar seus próprios valores e saberes a partir da relação que irá estabelecer com a história contada. Carvalho (1985, p.54) reforça que:

[...] a criança encontra nos contos uma forma de realização de seus desejos reprimidos, através do fantástico, do jogo livre da fantasia: desta maneira ela se realiza, superando as limitações que tem como criança, libertando-se. Ela realiza seu mundo interior, seu mundo impossível e utópico, na fantasia dos contos maravilhosos, onde tudo pode ser concretizado, mas se extraem de tudo símbolo de verdade eternas.

Ou seja, é através dos contos que as descobertas e a imaginação aparecem oferecendo diversos conceitos a partir das narrativas, estimulando os/as pequenos/as a pensar e a explorar diferentes visões sobre a história, sua ligação com o cotidiano e com o mundo.
            Ainda sobre a ideia de imaginário, pode-se afirmar que através dos contos de fadas oportunizamos inúmeras trocas entre professores/as e estudantes. Quando a criança entra no imaginário da história, se enche de magia e sonhos, é até capaz de se transformar diante da história contada, no mesmo tempo e espaço. As narrativas também oferecem as crianças subsídios fundamentais para que ela construa uma nova versão para a história que acaba de ouvir. Neste sentido, os contos tornam-se um espaço para que as crianças se inspirem, despertem novas emoções e desenvolvam aprendizagens.
            A imaginação da criança pequena cria um espaço sem limites entre o possível e o impossível. Cria também muitos mundos onde ela pode explorar as narrativas sobre diferentes aspectos. Gilka Girardello (2011, p.76) aponta que:

[...] a imaginação é também uma dimensão em que a criança vislumbra coisas novas, pressente ou esboça futuros possíveis. Ela tem necessidade de emoção imaginativa que vive por meio de brincadeiras, das histórias que a cultura lhe oferece do contato com a arte e com a natureza e das mediações adulta: o dedo que aponta a voz que conta ou escuta, o cotidiano que aceita.

            Alguns dos recursos utilizados na hora da contação podem beneficiar o/a professor/a e os/as estudantes, no sentindo de proporcionar diversas interpretações, fantasias e imaginações. As crianças pequenas podem aprender a olhar de maneira diferente uma mesma história ou mesmo uma história bastante conhecida. Uma história pode fazer fluir distintas emoções dependendo da forma como é contada. Quando a criança se envolve com as narrativas cria o seu faz-de-conta, suas fantasias, seus desejos, seus sentimentos afloram numa espécie de universo paralelo inventado no momento da contação.
            Muitas crianças necessitam das imagens fornecidas pelas histórias como estímulo para suas criações, tanto na leitura como na escrita. As histórias permitem um exercício diário na imaginação dos/as pequenos/as, tanto nos aspectos cognitivos e como nos aspectos afetivos. Os contos de fadas conseguem tanto despertar respostas aos conflitos como inúmeras curiosidades por parte das crianças. Girardello (2011) afirma que a exploração do espaço se torna essencial.

[...] para explorar o significado da narração de histórias nas escolas e nos espaços de educação infantil, podemos recorrer a uma metáfora: os momentos em que se conta histórias na sala de aula são como clareiras num bosque. Suponhamos um pouco mais em meio ao zum – zum das crianças forma-se um círculo no fundo da sala, em cima de um tapete ou de uma almofada de algodão que passaram a manhã tomando sol no beiral da janela. Com os olhos arregalados e risadinhas as crianças aconchegam-se e escutam a voz da moça de jeans ou vestido floreado – a professora. Entram na história, que ela conta, quase fecham os olhos, feito estátua, mas, ao contrário do que parece, elas não estão nem um pouquinho paradas: cavalgam num corcel veloz, ocupadíssimas com as aventuras muito longe dali (GIRARDELLO, 2011, p. 82-83.).     

            Percebemos que a imaginação no ato do contar da história mexe com o intelectual das crianças. Este é o efeito que os contos de fadas fazem nas crianças pequenas, oportunizando um mundo de magia, sonhos e finais surpreendentes. Os detalhes das cenas precisam ser criados com muita criatividade pelo narrador das histórias. Este trabalho faz com que a imaginação alce voos além dos muros da escola e dos limites da sala de aula. O importante é compartilhar, dialogar, oportunizar momentos de fala e de interpretação em cada conto narrado. 


A contação de histórias e a aprendizagem de crianças pequenas

            A contação de história é umas das práticas mais utilizadas como estratégia de ensino na Educação Infantil. Às vezes, ela se desenvolve a partir do planejamento de aula dos/as professores/as como também pode acontecer com a visita de um/a contador/a de histórias na escola, por exemplo. O/a professor/a tem diversas possibilidades de integrar a literatura na sala de aula, depende do modo como planeja suas aulas e das escolhas metodológicas que faz para contar histórias. 
            Uma história apresenta infinitos significados e ações que podem dialogar diretamente com a proposta pedagógica do/a professor/a. Contar uma história é trabalhar com uma linguagem de caráter literário que pode gerar saberes aos/as estudantes além do contato com outra referência de escrita e narrativa, por exemplo. Sua função é despertar a imaginação e os sentimentos que muitas vezes estão escondidos.
Por isso, a ação de contar histórias deve ser utilizada dentro dos espaços escolares, não somente em momentos onde o brincar os aspectos lúdico estão presentes, mas estar de fato presente na sala de aula, como metodologia capaz de enriquecer a prática docente ao mesmo tempo em que promove conhecimentos e aprendizagens múltiplas.
            Outra questão é que a contação de histórias como umas das principais práticas docentes no trabalho com crianças pequenas não pretende reconfigurar a função e a beleza que os contos querem transmitir ou alterar a mensagem, ao contrário, a forma como narramos uma história pode ser artística e pode servir de elo entre a arte e o processo de aprendizagem das crianças pequenas. Assim, a contação pode auxiliar o trabalho docente sem perder seu valor e significados.
            Bettelheim (2002, p. 197) diz que “o conto de fadas é a cartilha com a qual a criança aprende a ler a sua mente na linguagem das imagens, a única linguagem que permite a compreensão antes de conseguirmos a maturidade intelectual”. Muitas vezes, as crianças necessitam ser expostas a essa linguagem para prestar atenção nas histórias narradas. O conteúdo exposto pelos contos de fadas é rico e estimula a criança a desenvolver habilidades e competências. Por exemplo, a bruxa representa os aspectos destrutivos durante as oralidades, está disposta a comer todas as criancinhas. Suas intenções malvadas fazem com que as crianças reconheçam o perigo. Bettelheim (2002, p.16) afirma:

[...] uma bruxa forjada pelas fantasias ansiosas da criança persegue-a; mas a bruxa que ela pode empurrar para dentro de seu próprio fogão para que morra queimada é a bruxa da qual a criança pode se livrar. Enquanto as crianças continuarem a acreditar em bruxas – sempre o fizeram e sempre o farão – até a idade em que não sejam, mas compelidas a dar aparência humana as suas apreensões informes – elas necessitarão de estórias onde crianças se livram, pela engenhosidade, destas figuras persecutórias da imaginação. Conseguindo faze-lo, ganham muito com a experiência, como fizeram João e Maria.

O conto João e Maria trabalha simbolicamente a questão da união, isto é, a criança não imagina que um dia poderá ficar afastada dos seus pais. A história ainda propõe que as crianças aprendam a valorizar as pessoas que cuidam delas, dando ênfase ao afeto e a socialização.
            A contação de história traz também a possibilidade de contextualizar o conteúdo escolar de forma interdisciplinar, lúdica e prazerosa. Ao contar uma história podemos oportunizar aos/as estudantes um momento pedagógico diferenciado, mais encantado, mais livre das regras e normas que regem as salas de aula. Possibilitar que as aprendizagens aconteçam por diferentes entradas ou fios que tecem os saberes. Desta forma podemos nos aproximar do que pontua a autora Marie-Louise Von Franz (1990, p. 9):
[...] conto de fadas são expressões mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo. Consequentemente, o valor deles para investigação cientifica do inconsciente é sobejamente superior a qualquer outro material [...] o conto de fadas é, em si mesmo, a sua melhor explicação, isto é, o seu significado está contido na totalidade dos temas que ligam o fio da história.
           
            Geralmente na contação de histórias a plateia podem se relacionar com a contação de maneiras diferentes, a ponto de (quase) não perceber as fronteiras entre o mundo real e o mundo imaginário. As histórias podem brilhar como as estrelas. Se conseguirmos alcançar os céus, ensinar a ler e a escrever pode ser mais fácil. A contação de histórias pode servir como um instrumento facilitador na aprendizagem além de despertar no/a educando/a o gosto pela leitura.
            Ao ler ou contar história para as crianças pequenas podemos estar abertos/as a sentir a gargalhada diante das situações vividas pelas personagens, ser cúmplices destes momentos de humor e fantasia, deixar de ser o/a professor/a ou o/a estudante para ser quem quisermos. O que importa é vivenciar a história. Experimentá-la. Saboreá-la. Ter contato com um aprendizado capaz de transformar o mundo. Buscar no imaginário a curiosidade, as indagações postas pela contação. Descobrir que o mundo é cheio de conflitos e de impasses, mas as soluções podem estar por perto.
            Através dos problemas que são enfrentados e resolvidos pelas personagens de cada história, as crianças se identificam com a narrativa. Pela palavra narrada cria-se um processo de significância, uma curiosidade em torno de alguma palavra que ainda não sabe a descoberta de uma letra, a figura de um personagem... É a descoberta de palavras e letras que possibilita à criança assimilar para ler e escrever. O conhecimento se amplia pelo universo das histórias que intencionalmente ensinam, como afirma Abramovick (1997, p. 17):
[...] é através das histórias que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ótica... é ficar sabendo História, Geografia, política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula.... Porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer e passa a ser didática, que é outro departamento (não tão preocupado em abrir as portas da compreensão do mundo).

Estas histórias garantem uma riqueza de vivência contribuindo para o desenvolvimento do pensamento lógico e também da imaginação destas crianças. Quando as crianças ouvem histórias, melhoram suas capacidades imaginativas, estimula o pensar, o desenhar, o escrever, o criar, o recriar, a produção de sentidos e significados.
            Contar história é uma arte que equilibra o que é ouvido com o que é sentido. Por isso a entonação da voz, o jeito de contar, o cenário que se propõe o figurino que se usa, os adereços que enriquecem a narrativa podem chamar a atenção do/a espectador/a e traze-lo/a mais para perto ou quase para dentro da história que se conta.
No caso das contações feitas nas salas de aula, consideramos que não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro livro que se encontra pela frente. É preciso ter domínio da narrativa a ser contada. Ler o livro antes da contação para se familiarizar com a história, com os personagens, com as pausas e outros detalhes é fundamental. É considerando tudo isso que o/a ouvinte poderá viver emoções variadas como tristeza, raiva, tranquilidade, inquietação e outras sensações experimentando tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve.
            O/a professor/a é mediador/a do processo de aprendizagem, mas também aquele/a que estimula a leitura na formação de qualquer estudante. As estratégias didáticas escolhidas podem privilegiar a leitura e o contato com narrativas históricas. Isso auxiliará que os/as estudantes sejam leitores/as conscientes e capazes de interagir com as narrativas e o cotidiano em que vive. Para Larrosa (2007, p. 130) “a leitura, portanto, não é só no passatempo, um mecanismo de evasão do mundo real e do eu real. E não se reduz tão pouco, a um meio de conseguir conhecimento”. O/a professor/a não pode se esquecer desta função, motivar as crianças a descobrirem desde bem cedo o prazer pela leitura. Ainda neste sentido, o autor afirma:

[...] mostrar experiência e mostrar inquietude. O que o professor transmite, então, é a sua escuta, e sua abertura, a sua inquietude. E seu esforço deve estar dirigido no sentido de que essas formas de atenção não se anulem por qualquer forma de dogmatismo ou satisfação. Neste caso, ensinar a ler não é opor um saber contra outro saber (o saber do professor contra o saber do aluno ainda insuficiente), mas é colocar uma experiência junto a outra experiência (LARROSA, 2007. p. 147).

            O/a professor/a precisa manter vivo o interesse das crianças pelas narrativas para que elas possam ser interpretadas de forma criativa. Assim, o planejamento didático e objetivo da aula ministrada podem alcançar as perspectivas esperadas. A leitura diária de histórias pode auxiliar neste processo entendendo que estes espaços contribuem no aprendizado das crianças, especialmente as pequenas.
            Por meios das histórias as crianças constroem um repertório próprio de linguagem e diferentes concepções das narrativas. O contato com a literatura infantil estabelece uma relação mais sistematizada nesta faixa etária. Os contos de fadas, por exemplo, estimulam a se expressarem diante da vida e dos conflitos impostos pelo cotidiano. Bettelheim (2002, p. 20) considera que:

[...] para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida deve estimular-lhe a imaginação: ajuda-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras as suas emoções: estar harmonizadas com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam. Resumindo, deve uma só vez relacionar-se com todos os aspectos de sua personalidade e isso sem nunca menosprezar a criança, buscando dar inteiro crédito a seus predicamentos e, simultaneamente, promovendo a confiança nela mesma e no seu futuro.

O autor nos remete a pensar sobre a promoção de confiança nas crianças. Este é um desafio que nós, educadores/as, precisamos trabalhar. Os contos não são só instrumentos de diversão e passatempo, mas são dispositivos imprescindíveis para o desenvolvimento e o aprendizado de todos (crianças e adultos) e por serem assim entendidos trazem em seu plano de fundo uma intencionalidade, às vezes, pedagógica.

A contação de história nos CMEI Paraíso Infantil e Contos de Fadas

Neste trecho apresentamos a experiência vivida por Cléia enquanto professora e contadora de histórias. Esta experiência deu-se inicialmente no período do Estágio Supervisionado realizado na Educação Infantil. Enquanto professora, observamos a importância da contação de histórias para o ensino e a aprendizagem de crianças pequenas. Na sequência apresentaremos dois movimentos que estruturam a narrativa em torno da experiência de Cleia, por isso, a partir daqui o texto será escrito na primeira pessoa do singular.
O primeiro movimento apresenta a escolha por contar histórias no CMEI Paraíso Infantil, lugar em que não realizei o estágio, ou seja, a intervenção deu-se especialmente em duas turmas para contar histórias. E outra associada ao estágio supervisionado, isto é, lugar em que atuei como professora e contadora de histórias no CMEI Contos de Fadas. Nestes movimentos mesclam-se minhas expectativas enquanto professora contadora e pesquisadora.
Ao escolher o CMEI Paraíso Infantil, que fica localizado no Setor Bela Vista, bairro Taquaralto, Palmas/Tocantins, passei a pesquisar o local e sentir o prazer de um bom encontro com a coordenadora pedagógica que se mostrou muito interessada em minha proposta e pesquisa. Com diálogos e algumas sugestões da coordenadora escolhemos as turmas na qual a contação iria acontecer. Apesar de ter vivenciado a contação de história no estágio supervisionado, resolvi conhecer outro CMEI para me experimentar enquanto contadora de histórias e isto me trouxe inúmeros desafios. As experiências que passo a apresentar estimularam ainda mais a refletir sobre as práticas pedagógicas que usamos diariamente nas salas de aula e me perguntar sobre como podemos deixar de ser professores/as passivos/as para influenciar ativamente as crianças em potentes encontros com a contação de histórias?

A Professora

A contação de história é importante na formação de qualquer criança. Escutar e interpretar histórias podem ser o início de muitas aprendizagens além de estimular crianças a desenvolverem suas habilidades e se tornarem boas leitoras. O primeiro contato da criança com as histórias é feito oralmente através dos pais, das mães, dos/as professores/as ou de pessoas que levem estas histórias às crianças pequenas.
A fim de levar mais histórias às crianças pequenas e também de me experimentar enquanto professora e contadora, propus contar histórias de forma dinâmica e diferenciada do modo tradicional (que geralmente acontece nas salas de aula). Penso que esta experiência fortalece a reflexão e propõe aos/as acadêmicos de Pedagogia que revisem suas práticas assim como a escolha de metodologias adotadas para um trabalho com crianças pequenas.
Como professora tive que planejar cada detalhe de como seria a contação para as crianças. Primeiro pensei no espaço físico. Depois, na faixa etária das crianças que seria de 4 a 5 anos de idade. Então, comecei a planejar a história que iria contar. Como pesquisei contos da literatura infantil, optei por trazer um clássico dos Irmãos Grimm, “Chapeuzinho Vermelho”. No entanto, fiz uma adaptação da história para uma versão que nomeei de “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Trapalhão”. Uma história bem descontraída. Na adaptação abri espaço para a comédia. Esta também foi uma aposta metodológica.
Enquanto professora sabia que não bastava somente preparar a contação, assim, planejei algumas atividades para serem aplicadas junto a narrativa, que envolvessem a participação das crianças. O grupo com o qual iria trabalhar poderia desenvolver o seu próprio conhecimento a partir da contação. Enquanto professora sugeri à temática e auxiliei as crianças, mas entendia que a aprendizagem é do sujeito, o atravessamento é sempre singular.
O que me inspirou a realizar este planejamento foi perceber à importância das histórias e como elas tem contribuído para o aprendizado das crianças pequenas. Ao pesquisar clássicos da literatura infantil, decidi adaptar uma história bastante conhecida por nós: Chapeuzinho Vermelho. No entanto, dei um tom mais engraçado para a contação, afinal, as histórias podem ser recontadas de maneiras diferentes. Nem sempre o personagem “bonzinho” vai ser “bonzinho” e o “malvado” vai ser “malvado”. Estas histórias nos fazem pensar, nos ensinam e estimulam. Preparei então a caracterização da personagem e contei dando outro final para a história.

A contadora

Para contar uma história é sempre bom conhecer bem a história que vai ser contada e/ou encenada. A familiarização com o texto é um ponto forte que ajuda o/a contador/a a narrar de modo mais agradável aos/as ouvintes, além de conhecer todas as passagens, as personagens e o contexto no qual a história acontece.
Fui para a sala de aula. Era o dia mais aguardado por mim e pelas crianças. Como de costume ao chegar à sala comecei a me apresentar. As crianças observaram que eu não estava vestida como professora. Então perguntei: - De que estou vestida? Elas responderam rapidamente: - de Chapeuzinho vermelho, tia! Continuei: vocês sabem qual história vou contar hoje? Elas responderam: - Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau... Contra argumentei. Esta história é um pouco diferente. O nome dela é: “Chapeuzinho Vermelho e Lobo Trapalhão”. Imediatamente observei as crianças ainda mais curiosas sobre o que aconteceria a seguir.

Chapeuzinho Vermelho e o Lobo trapalhão começa como começam outras histórias: “Era uma vez...” Quando comecei a contar, notei que ao escutar a frase clássica, as crianças ficaram empolgadas, elas pareciam estar prontas para uma viagem mesmo sem saber se seria para um mundo encantador, assustador ou engraçado. Continuei a história como planejado. Encenava cada trecho narrado. Via que as crianças estavam inquietas, então as chamei para participar da aventura junto comigo. Como muitas crianças conheciam a versão original de Chapeuzinho Vermelho, o tempo todo queriam falar ou responder. Como a história foi adaptada para o um contexto mais descontraído e engraçado a cada trapalhada do Lobo, ouvia-se muitas gargalhadas.
            Até ali eu havia contado poucas histórias infantis, mas para Chapeuzinho Vermelho e o Lobo trabalhão eu havia me preparado bastante. Na medida em que contava eu também me divertia. Ao final da história todos aplaudiram entusiasmados. Enquanto contadora senti uma sensação muito boa ao perceber que as crianças gostaram. No entanto, para a professora regente da turma em que contei a história, era preciso fazer mais do que participar. Ou seja, a professora queria uma atividade pedagógica. Será mesmo que isto era preciso? As crianças se envolveram do início ao fim da narrativa e ao mesmo tempo em que eu contava iam retraçando a história e recriando outro final comigo. Até que pontos as “atividades pedagógicas” não tornam o prazer de ouvir uma história algo enfadonho e cansativo para as crianças? As atividades das pedagógicas são tão previsíveis... Mesmo assim, como já era esperado, levei algumas atividades.
Na primeira turma construímos personagens da história na forma de fantoche de palito. O objetivo era que posteriormente as crianças pudessem recriar a narrativa a partir de como elas viam estes personagens, a sua maneira. Na construção apareceram desenhos curiosos e interessantes de cores e traços variados.
            Na segunda turma não foi diferente. As expectativas eram grandes em torno de como deveria ser a narração. Será que a história traria surpresas? Durante a narrativa tive muitas participações. Uma das crianças chegou a contracenar comigo em trechos da história. Não pude me conter de felicidades por eles terem gostado e participado. Como era esperado, após a história as crianças fariam uma atividade. A proposta para esta turma foi construir o mapa da história contada. A intenção era verificar como as crianças identificaram os cenários, as personagens e os trechos da história narrada. Os desenhos revelaram traços, interpretações e diferentes sensações destacadas pelo grupo. 

Tanto a professora quanto a contadora me desafiaram. A professora no seu ato de planejar me fez pesquisar, buscar estratégias, elaborar atividades... A contadora me fez inventar vozes, dar características as personagens, contar a história de modo diferente do habitual. Ambas me fizeram pensar na aula e sua estrutura. O que faria deste encontro um encontro potente?
Podemos inovar e transformar a aula em um lugar de prazer. Assim, teremos mais chance de encontrar um grupo de estudantes e professores/as abertos/as ao aprender. Momentos como estes encantam as crianças. Todo esse “mundo mágico” e encantador podem fazer do processo de ensino um lugar de novas experiências. O momento do Estágio Supervisionado também serve de ponte para o prazer de adentrar a sala aula. O planejamento e a execução de algumas atividades podem dar passagem a outras formas de pensar. Isto é essencial para a vida acadêmica, especialmente, quando refletimos sobre as etapas e o modo como ministramos uma aula


Conversa com as professoras

A partir da experiência vivida como professora e contadora de histórias sentimos ainda a necessidade de conversar com professoras da Educação Infantil, sendo duas professoras do CMEI Contos de Fadas. A escolha das entrevistadas deu-se a partir da sua vivência com a temática na rotina escolar e como elas trabalham a contação nas suas estratégias metodológicas. Para a realização das entrevistas elaboramos um roteiro com questões semiabertas, de modo que as professoras pudessem acrescentar informações que não estivessem previstas a priori no roteiro. Para preservar a identidade das entrevistadas utilizaremos letras do alfabeto para nos referirmos a elas. As entrevistas foram realizadas individualmente e gravadas para que pudéssemos manter a fidelidade das respostas de cada participante.
Do CMEI Paraíso Infantil as professoras entrevistadas possuem formação em Pedagogia, sendo que uma delas tem especialização. O tempo que trabalham como docentes é de 2 e 8 anos. As turmas em que atuam têm crianças de 1 a 3 anos. Iniciamos a conversa com a questão acerca das histórias. Embora saibamos que as professoras trabalham com a contação de histórias para crianças pequenas, era importante ouvir delas se elas gostam de histórias. Ao indagar sobre: “você gosta de histórias?” as respostas foram afirmativas dentre as quais destaco a fala da professora G: eu gosto muito de história devida ser o momento que atrai muito as crianças”.
Na sequência, questionamos: “entre os clássicos da literatura infantil, qual é a história que as crianças mais conhecem e gostam?”.

[...] elas normalmente trazem de casa que muitas vezes é recontada pelos pais, mas o momento que a gente docente repassa as histórias, momentos que contamos histórias elas descobrem outras histórias muito interessante como: O Grande Rabanete que é da autora Tatiana, tem aquela também sobre Menina Bonita do Laço de Fita que é uma história muito contada no meio infantil que é porque trabalha com valores contados por Ana Maria Machado, que contada às crianças por elas descobrirem outras histórias, trazendo de forma atrativa. Onde aí é nascido o prazer de ouvir histórias [...] (Profª. G).

[...] com a turminha que estou elas gostam muito das histórias infantis do tipo: Chapeuzinho Vermelho; Os três porquinhos... Todas as histórias bem antigas que nós crescemos [...] então a gente passa para as crianças e elas gostam [...] (Profª  J) 

            A professora G menciona duas autoras: Ana Maria Machado e Tatiana Belinke como base de suas práticas de contação de histórias. Já a profª. J faz menção de histórias infantis relacionadas aos clássicos dentre eles os irmãos Grimm. Também indagamos se as professoras saberiam dizer “o por quê” de as crianças gostarem tanto de histórias?”

[...] o contador de histórias (o professor) que está a frente, tem a forma que atraia a atenção dessas crianças, porque a criança o mundo dela é lúdico, elas dependem de fantasias, tanto que a nossa vida até como ser humano depende de fantasias [...] quando tem fantasia nos atrai. Por este fato atraí as crianças pelo mundo da fantasia [...] ( Profª G).

            A partir da fala da prof.ª G, observamos uma conexão direta com a produção teórica de Girardello (2011) e a questão da fantasia, do estimulo à aprendizagem pela imaginação. Neste sentido, a prof.ª J também reforçou a necessidade de estímulos para a aprendizagem uma vez que em sua metodologia de trabalho costuma se caracterizar e oportunizar que as crianças se transformem em personagens das histórias trabalhadas nas aulas.
[...] eu creio que elas gostam porque também eu pessoalmente tenho que caracterizar não só a mim, eu incentivo as crianças a fazerem isso, então, quando faço isso elas gostam mais, elas apreciam mais, elas que são os personagens [...] (Prof.ª J).

            Continuamos a conversar a partir da seguinte questão: “para você, a contação de histórias na Educação Infantil é importante? Por quê?”. A profª G apontou a necessidade de estimular a formação das crianças com a contação de histórias ao passo que a profª J afirmou que a contação de histórias favorece o “pedagógico” e a aprendizagem. Veja:

[...] é muito importante porque constrói, nos estamos construindo um ser humano, onde temos uma sociedade onde tem que ser desenvolvida no nível de reconhecimento do mundo da leitura, levando em novos horizontes... E as crianças, mesmo sem saber decodificar, mas só de ele ler e visualizar e ouvir se professor contando história, elas vão ver um incentivo [...] fazendo com que sinta desejo de conhecer histórias [...] (Profª G).

[...] “pra mim sim. Porque é um faz de conta pra elas, elas gostam, elas fantasiam, elas imaginam e dali você pode levar para o pedagógico, incentivando a aprendizagem, tem muito disso” (Profª J).

            As respostas nos remetem a uma reflexão sobre os desejos das crianças pelas histórias apresentadas e seus significados no aprendizado das mesmas. Fanny Abromivick (1997, p.17) aponta em seus escritos que é através de histórias que as crianças pequenas descobrem o mais profundo do seu Ser. É no desejo de conhecer que se identificam com as personagens construindo o seu próprio faz de conta, ou seja, “sem regra elas montam essas histórias a suas maneiras”. A partir das narrativas das professoras pensamos que a contação de histórias nos ajuda a redescobrir a própria aula, seus espaços, sua rotina, suas atividades (que não necessariamente precisam sempre ter um fim pedagógico).
            Questionamos ainda sobre: “você costuma contar histórias nas suas aulas?”. Evidente que por se tratar de professoras da Educação Infantil, presumi que a resposta delas fosse afirmativa. A questão foi respondida abertamente e com descontração.

[...] Nossa! (risos) ... Todos os dias! A gente usa como hábito, porque na Educação Infantil nós temos que ter esse hábito, porque é o mundo delas” (Profª G).

            Mas, o que seria este hábito citado pela profª G? Parece que se refere a uma prática rotineira de contar histórias. Algo que acontece todos os dias na rotina escolar, faz parte do trabalho diário dos CMEIS. Por esta razão perguntamos às professoras “quantas vezes por semana acontece a contação de história?”. A profª G. respondeu que “todos os dias é uma rotina, a história é uma rotina” (Profª G), já a profª J acrescentou que acontece “geralmente três vezes por semana, sempre procuro contar, às vezes, até duas por dia”...
            É muito interessante observar que as professoras estimulam em suas práticas o hábito de contar histórias, porém, de maneiras metodológicas diferentes. Isto nos permite pensar que essas práticas sugerem um planejamento diferenciado e próprio para a contação ou que elas podem estar integradas a outros momentos e conteúdos. Neste sentido, quisemos saber das professoras como elas escolhem as histórias que contam.

[...] normalmente eu escolho por temas que estamos trabalhando porque trabalhamos com projetos, por isso ele se torna forte [...] (Profª G).

[...] eu repito muito as mais antigas, porque já tem essas mais de livros atuais que você vai abrindo vai contando e vou mostrando [...] quando conto eu os coloco, aí divido os personagens, vai ser criança tal, o outro vai ser criança tal. (Prof.ª J).

            A Prof.ª G usa os projetos como forma metodológica, existem projetos literários que servem como base para os seus planejamentos. Por outro lado, a Profª J, usa os contos clássicos e suas imagens para criar diferentes narrativas. Há um estímulo para a encenação de personagens. Lembramos-nos de Fanny Abramovick (1997) que aborda que “contar história é arte”. Na encenação a arte se torna um ponto de chave para o aprendizado. Dando sequência à conversa questionamos se as professoras costumavam se preparar para contar a história. Como? Aqui percebemos dois direcionamentos, um que prepara a contação detalhada, com a caracterização, a pesquisa vocal, a construção da narrativa e outro que procura “encaixar” as histórias dentro de um planejamento maior voltado aos eixos de conhecimento. Veja as respostas:

[...] se caracterizando, levando a imaginação até a criança por meio diferenciado porque história contada só por livro não é contação é leitura. [...] há toda uma encenação... a voz muda de acordo com o decorrer da história fazendo de tudo pra chamar a atenção das crianças durante a narrativa” (Profª G).

[...] através do planejamento. Eu vejo o planejamento e encaixo as histórias nele [...] (Profª J).

            A professora G deixa explícito que a contação deve partir da necessidade de estratégias, não exclusivamente lendo o livro, mas, levando o diferencial para o desenvolvimento educacional dos/as pequenos/as. A professora J tem como subsídio o planejamento diário, encaixando as histórias na rotina escolar e nos eixos estudados. Talvez seja por isso que a professora J costuma contar as histórias “mais antigas” para as crianças. Parece que por ser tratar de histórias conhecidas, há uma menor necessidade de preparo para a contação. Isto não é o ideal. Sabemos da falta e tempo que as professoras da Educação Infantil encontram para dar conta de todas as demandas de suas aulas, no entanto, preparar a contação de história, mesmo que seja um tema conhecido, é fundamental para um encontro ativo e potente entre aquele ouve a história e aquele que conta.
            Ao perguntar se as professoras usam alguma estratégia metodológica diferenciada, a profª G afirmou: “caracterizo-me como os personagens, monto um cenário tendo como objetivo as crianças fazendo a interação durante o processo da história”. Já a profª J disse que costuma usar as crianças como os próprios contadores de histórias: “minha estratégia eu uso eles como contadores”.
            Uma das professoras afirma que para existir interesse das crianças para com a contação deve haver caracterização, preocupação com o cenário, com a voz das personagens, etc. Um ponto chave neste processo é abrir espaço para a interação. Testar os conhecimentos que as crianças têm sobre a história contada, perceber a afetividade das crianças com a professora contadora de histórias, oportunizar a relação entre os colegas da turma, compreender que o imaginário nos ajuda a interpretar e a criar outras versões sobre as histórias. Mas, não deixa de ser interessante perceber que a estratégia de usar os próprios alunos para contar as histórias faz com que as crianças se interessam e interpretem melhor os contos trabalhados, como afirma a profª J.
            Outra questão importante era saber se na unidade de ensino onde as professoras trabalham existe algum projeto ou ação que envolva a contação de histórias. Um fato curioso aparece aqui. A profª G diz que existe um projeto na escola sobre contação de histórias, mas na fala da profª J isso inexiste. Veja: “Sim. Temos projetos que incentivam não só os alunos mais a sociedade e pais reforçando a importância da leitura e as histórias na vida das crianças” (Profª G); No momento não, não vem nenhum projeto na minha cabeça (Profª J)”. A primeira fala que existe projetos que incentivam a leitura não só das crianças mais que mobilizam as famílias e a sociedade ao redor do CMEI. Por outro lado, a segunda professora contradiz o que a primeira afirma, lembrando que as entrevistadas trabalham na mesma instituição.
            Para finalizar a conversa com as professoras deixei em aberto caso quisessem acrescentar alguma outra informação sobre este tema. Aqui destacamos a contribuição da profª G: “gostaria de acrescentar a importância da contação de história na Educação Infantil. E repassar a vocês futuros pedagogos que sejam professores capazes de transformar as crianças com quem irão trabalhar”.
            Diante do que foi exposto nas entrevistas, é preciso estar aberto as diferentes estratégias de ensino, pois, as crianças podem desenvolver diversas versões dos contos de fadas, inventando personagens e enredos muito criativos. Talvez seja por isso, a contação de história continua sendo uma das estratégias mais utilizadas nos planejamentos dos/as professores/as da Educação Infantil.
           
BREVES CONSIDERAÇÕES

Com esta pesquisa vimos que a contação de histórias faz parte do cotidiano escolar das crianças pequenas. Para se trabalhar com contos de fadas exige muita leitura, pesquisa, preparo e planejamento. A pesquisa foi construída numa abordagem teórico-prática, assim, possibilitou aprender mais sobre a origem dos contos além de vivenciar a experiência como professora e contadora de histórias. Neste sentido, retomamos a questão central da reflexão como os contos de fadas (desde sua origem) influenciam a Pedagogia e o trabalho com crianças pequenas, para observar como a contação de histórias vem sendo (e pode ser) trabalhada no contexto escolar. Mostramos também parte do percurso vivido por Cléia pensando sobre as escolhas didáticas envolvidas no ato de contar histórias para crianças pequenas e os desafios nas etapas do planejamento. Quais métodos nos auxiliam?
Outro aspecto relevante foi perceber divergências de opiniões entre as professoras participantes da pesquisa. Cada professora tem um modo de trabalhar com a contação de histórias na sala de aula. Cada professora encontra à sua maneira de chamar a atenção das crianças para as histórias revelando que a busca por diferentes metodologias de ensino é uma busca individual, de cada professor/a.
Por fim, podemos dizer que a contação de histórias contribui muito para o desenvolvimento das crianças pequenas, por notar que cada criança interpreta as histórias de diversas maneiras e significados e a partir delas constrói a sua personalidade, os seus conceitos, as suas opiniões, os seus referenciais, etc.
O ato de contar história não é apenas abrir o livro e ler ou mostrar as ilustrações, mas despertar a curiosidade nas crianças, estimular a imaginação, desenvolver habilidades cognitivas, afetivas e motoras. Enquanto as crianças se divertem também aprendem. A contação de histórias favorece a aquisição de novos conhecimentos além de oportunizar que as crianças construam características de suas identidades junto a diferentes saberes. Os encantamentos das histórias estão abertos a muitas leituras e significados. Um conto pode ser considerado uma obra de arte, especialmente os grandes clássicos, que até hoje são contados e recontados entre as gerações. Um conto é um dispositivo cultural que pode estar presente nas escolhas metodológicas dos/as professores/as. Então, resta seguir pensando sobre: como percebemos e nos envolvemos com o ato de contar de histórias? Adotamos a contação como um instrumento didático na rotina escolar?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVICK, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. São Paulo: Sapione, 4ª ed. 1997.
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2004.
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A Literatura Infantil: Visão Histórica e Crítica. 4ª ed. Global. São Paulo, 1985.
GIRARDELLO, Gilka. Imaginação: Arte e Ciência na Infância. Pró – Posições, Campinas, 2011.
LAGO, Angela. A festa no Céu. Ed. Melhoramento, São Paulo, 1995.
LARROSA, Jorge (2007). Literatura, experiência e formação. Uma entrevista com Jorge Larrosa. In: COSTA, MarisaVorraber (org.) Caminhos investigativos I. Rio de Janeiro: Lamparina.

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*Pedagoga. Professora do Centro Educacional Prisma, em Taquaralto setor de Palmas/TO. Contato: cleiasouza28@gmail.com
Doutora e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Contato: amandaleite@uft.edu.br