Ele: POESIA E CONFISSÃO EM MÁRIO DE ANDRADE


Edson Burg
Doutorando em Literatura (UFSC)

RESUMO: O presente artigo objetiva a análise do poema “Tu”, de Mário de Andrade, publicado em Paulicéia desvairada no ano de 1922. A obra, apontada como seminal para a poesia modernista brasileira, era considerada pelo próprio autor como um relato de suas angústias e cóleras – a partir dessa premissa, a pesquisa parte do pressuposto de que “Tu” se trata de uma confissão de seu autor, que fez uso de um diálogo surrealista com a cidade de São Paulo para revisitar suas memórias nas curvas arquitetônicas/femininas da metrópole em pleno desenvolvimento industrial.

Se Paulicéia desvairada traz em seu título a intenção de personificar a cidade, adicionando ao substantivo “paulicéia” o adjetivo “desvairada”, que a qualifica e lhe dá identidade individual e personalidade, “Tu” carrega em seu nome uma relação quase íntima de Mário de Andrade com São Paulo.
É a partir dessa nomenclatura que se desnuda a proximidade entre o poeta e a cidade – ao referir-se a São Paulo como “Tu”, Mário de Andrade parece propor um diálogo, estando atento àquilo que a metrópole o responde. Respostas estas não vindas em forma textual, mas através de suas curvas arquitetônicas, assemelhadas às curvas femininas, e suas características rotineiras. Mário busca, assim, sua própria memória no passeio do eu lírico pelas ruas da paulicéia.

Antes de tudo, o começo
Contra a vontade de Mário de Andrade, Paulicéia desvairada (e, em especial, “Tu”) marca a proliferação dos termos “futurismo” e “futurista” nos meios artísticos e literários de São Paulo no início dos anos 20. Mário da Silva Brito ressalta que, antes da troca de artigos entre Mário e Oswald de Andrade e a polêmica de “ser ou não ser futurista!”, “êsses vocábulos já eram conhecidos e usados, mas não vinham cercados de rumor e nem continham a carga polêmica que então se adquiriram” (1974, p. 246).
Para Mário de Andrade, um horror ver tamanha celeuma em torno de uma obra que, diz ele, talvez nem fosse publicada por se configurar num “despejar no papel as sensações acumuladas por sua experiência de homem integrado no ritmo da vida paulista” (ibid, p. 160). Para Oswald, desejo. Desde o retorno da Europa, em 1912, quando importou o futurismo do Manifesto de Marinetti, Oswald almejava a disseminação dessa nova literatura com as aspirações a combater o academicismo e comprometida aos avanços tecnológicos crescentes a olho nu.
Segundo Silva Brito, o termo “futurismo” era arbitrariamente relacionado às polêmicas e divergências dentro do próprio grupo modernista: “Os modernos são encaixados à força – e até contra a vontade – dentro do futurismo” (ibid, p. 161), ressalta. Oswald, contudo, pregava que o futurismo “haveria de ter circulação pelo seu país natal, não imitativamente, mas como processo a ser, com o tempo, absorvido pela cultura” (ibid, p. 35).
O manifesto trazido de Paris em 1912 com o “futurismo” a reboque ganha força a partir da publicação de “Meu Poeta Futurista” (e, consequentemente, a revelação de “Tu” ao público) e a resposta de Mário, “Futurista?!”, ambos no Jornal do comércio em 1921.

Das contradições
Quatro anos antes, em dezembro de 1917, Anita Malfatti sofrera do mesmo mal. Sua exposição dita como modernista (que, não por acaso, chamou a atenção de Mário de Andrade), chocou a sociedade paulistana e originou um artigo publicado por Monteiro Lobato no O Estado de São Paulo, com intenções de celebrar o trabalho da artista, mas que lhe trouxe consequências inesperadas.
Ao tomar conhecimento dos versos de “Tu” no Jornal do comércio e de ter seu nome relacionado intimamente aos preceitos da escola futurista, Mário de Andrade temeu o mesmo destino. Como aponta Silva Brito, “o poeta sofre, então, em nome da literatura moderna, os mesmos vexames sofridos, poucos anos antes, por Anita Malfatti, em nome da pintura avançada” (ibid, p. 231).
Assim como brincou com substantivos, adjetivos e pronomes nos títulos de Paulicéia desvairada e “Tu”, Mário de Andrade brinca com os pronomes na resposta “Futurista?!”. Fala do poeta de “Tu” em terceira pessoa – como representante deste poeta, destila a rejeição ao rótulo, prega a busca pela autonomia e reafirma um período de questionamentos sobre concepções de arte. Talvez, questiona, por isso, se algum dia tal obra seria lançada.
Não era a primeira autorrejeição imposta pelo próprio Mário de Andrade. Há uma gota de sangue em cada poema, mesmo assumido pelo poeta, saiu com autoria de Mário Sobral. A contradição de venerar e esconder suas próprias obras desde então pareciam modus operanti do poeta Mário de Andrade, como quem tivesse explicitado seus questionamentos e sua vontade de renovação apenas na intimidade.
Contradição esta presente no registro poético de Paulicéia desvairada. Num cenário de inovações industriais, Mário de Andrade tratou de criar uma nova configuração literária para reconhecer uma nova configuração de São Paulo. O poeta assume a máscara do desvairismo, como explicita já em seu “Prefácio Interessantíssimo”, que assume traços de uma justificativa que viesse a teorizar sobre sua poesia nascida do subconsciente, a ousadia e os versos livres desnudados posteriormente como reflexões de uma inspiração não sujeita a medidas e formatos.
O uso da máscara[1], no modernismo, caracteriza a criação de um processo de subjetividade por parte do autor, uma tentativa de escape dos dispositivos de controle impostos pela modernidade. Porém, ao invés de esconder este autor, a máscara assumida reafirma uma existência – a existência da própria máscara, de um mascaramento ante a perversidade da modernidade de produzir um cidadão limitadamente definido.
A máscara mariana de Paulicéia desvairada aponta para um eu lírico embasbacado com a beleza e a diversidade de São Paulo, ao mesmo tempo em que reflete certo constrangimento do sujeito em virtude das mudanças sociais constantes e visíveis.  Perceber essa alteração no cenário também dá a Mário de Andrade o conforto do desvairismo, de ignorar a forma pré-determinada e brincar com os versos livres para marcar um cenário também já longe do que era previamente determinado.

“Tu” na “Paulicéia”
O poema “Tu” é síntese do deslumbramento por este cenário contraditório e em plena modificação. Mário de Andrade concentra-se nessa indefinição e teima de São Paulo em esquivar-se da modernidade: sempre relacionando a cidade com perfis femininos, o eu lírico a define como “mulher feita de asfalto e de lamas de várzea”, “meio fidalga, meio barregã”; exalta seu hibridismo cultural, “ítalo-franco-luso-brasílico-saxônico”, provinciana e cosmopolita (1986, p. 57).
“Tu” reflete a paixão inabalável de Mário de Andrade por sua pauliceia, não se envergonhando em redirecionar seu foco ao constatar que as mudanças da modernidade causam ranhuras em sua amada. No passeio pela paisagem humana de São Paulo, o eu lírico reconhece a criminalidade como efeito colateral de uma expansão econômica – e sua consequente desigualdade social -, mas nem por isso deixa de gostar dos “desejos de crime turco e das tuas ambições retorcidas como roubos!”.
Ainda no cenário contraditório, Mário de Andrade vê até na constante e fria névoa e no clima instável um objeto de adoração. A “névoa fina, pura neblina da manhã” aproxima São Paulo da consagrada Londres[2], assim como cria um laço com o “risco de aeroplano entre Moji e Paris!” (idem).
Paulicéia desvairada, e, em especial, “Tu”, soam como resposta emocional de um apaixonado às ambiguidades da transformação moderna, do momento em que a cidade cresce, mas ainda se observam traços de outrora. Essa perplexidade de Mário de Andrade justifica o uso do adjetivo “desvairada” – o “desvairamento” vem da nova configuração, de uma modernidade ainda não totalmente estabelecida e que confunde (e que fascina) o eu lírico em seus passeios pelas curvas femininas de São Paulo.

Ele em “Tu”
Mas, mais do que um registro poético e a constatação de uma mudança perene, os poemas de Paulicéia desvairada (como “Tu”) são mais diagnósticos de um conflito interno do que exaltação metropolitana. A máscara desvairista evidencia o poeta em seu passeio, ao passo em que desarma deste poeta uma condição soberana de lucidez.
Mais de uma vez, no decorrer de Paulicéia desvairada, Mário de Andrade deixa escapar suas contradições, em sintonia com o cenário contraditório por ele visitado nos versos. Ao usar pronomes possessivos quando se referencia à cidade (“Mulher que és minha madrasta e minha irmã”), Mário de Andrade não apenas assume a cidade como sua, mas ainda força uma autoidentificação dele próprio com a cidade. Paulicéia desvairada fala tanto dele (Mário) quando dela (cidade).
“Tu” é exemplar nesse sentido. O poema fala de São Paulo, mas traz elementos significativos do próprio poeta – a relação de seu íntimo com a cidade escorre em versos. “Tu” apresenta constantes momentos de desabafo de Mário de Andrade. Não um desabafo de lamento, mas de apresentação, de desarme do poeta. A máscara é seu próprio rosto mascarado.
Mário de Andrade torna a cidade uma versão poética da própria cidade, e inclui nesta cidade traços e características suas – a cidade é “dele”. O sujeito que passeia por São Paulo busca nas curvas arquitetônicas valores que pertencem a si. É a relação entre o cenário contraditório e o íntimo do poeta, ele quer se reconhecer na amada.
Se a cidade é uma dama cortejada pelo poeta, daí os elogios presentes até nas descrições de suas fraquezas, o poeta busca convencê-la de suas afinidades. Assim, o eu lírico se funde à cidade, torna-a parte de si mesmo. Para isso, já de posse de liberdade na criação de versos conforme se autoriza no “Prefácio Interessantísimo”, Mário de Andrade faz uso do fantástico e deixa à tona ecos de suas influências surrealistas.
Raúl Antelo trata dessa relação. Ao tensionar a “arte pura”, o autor recorre a uma citação de Bourdieu ao refletir que a experiência artística “é um efeito de concordândia combinada entre um habitus culto e o campo artístico específico em que esse habitus se insere e interage” (2001, p. 105).
Em Paulicéia desvairada acontece este relato de tensão da “arte pura” citado por Raúl Antelo. Mário de Andrade assume a autonomia artística de seus versos, mas não sem assumir uma determinada linhagem – Poe, Baudelarie, Lautréamont, como cita Antelo. Ainda, “afirmar a autonomia poética leva então a desenhar um dispositivo absoluto, paradoxalmente centrado e à margem dos enunciados convencionais” (ibid, p. 107).
Eis aí resquícios da leitura de Mário da Andrade da revista L´esprit nouveau, publicada entre 1920 e 1925 e escrita por adeptos do surrealismo. Cita Antelo que, nessa caracterização do moderno proposta pelo autor de Paulicéia desvairada, percebe-se a trilha de Paul Dermée: nas edições 20, 22 e 23 da L´esprit nouveau, Dermée escreve, respectivamente, sobre Lautréamont, Poe e Baudelarie, propõe uma periodização do surrealismo poético que chama a atenção de Mário de Andrade como precursora da “máscara desvairista” (e, consequentemente, do modernismo em si).
Dessa herança surrealista da L´esprit nouveau nascem versos de “Tu”. As contradições marcantes no poema (São Paulo é, por vezes, fidalga/nobre, barregã/amante, triste/alegre, inqueta/calma, quente/fria, neblina/sol) podem ser resumidas no pesadelo/sonho: ao descrever a cidade como “materialização da Canaã do meu Poe!”, Mário de Andrade desnuda duas de suas intimidades. Primeiro, sua formação cristã ao citar a terra bíblica prometida. Ao relacioná-la com Poe, não apenas revisita a definição feita por Dermée[3] como busca a experimentação em imagens surrealistas.
A citação de Poe merece um adendo. O “sonho medonho” de Mário, esmagado na parede, remete ao mulher/cidade característico de “Tu”: aqui, São Paulo se esmagou nas paredes (“Tu te esmagaste nas paredes do meu sonho!”), tal como o gato preto de Poe. A agora mulher/cidade se converte em mulher/gato preto/parede, cena final de “O Gato Preto”, de Poe, na qual se revela a atitude vil da personagem em ocultar o corpo da mulher na adega como num ritual da Idade Média. A citação a Poe reafirma a dualidade pesadelo/sonho de “Tu”, marcada ainda pelo “Never More!” infernal de “O Corvo” trepado no busto de Palas.
A apropriação de textos literários (soma-se aí a relação de São Paulo com a ambiciosa Lady Macbeth, de Shakespeare) dá um retrato da cidade por meio da metalinguagem, oriunda das leituras particulares de Mário de Andrade. Assim, diz muito do próprio poeta. Conforme reconta Lilian Escorel de Carvalho, em carta a Manuel Bandeira, Mário de Andrade afirma que o livro “trata-se de uma época toda especial de minha vida. Paulicéia é a cristalização de 20 meses de dúvidas, de sofrimentos, de cóleras” (2008, p. 85). É, assim, além de uma exaltação e a constatação de um novo tempo em São Paulo.

A máscara de Mário de Andrade
“Tu” trata da modernidade por uma ótica muito mais humanista do que necessariamente um registro poético. Mário de Andrade não apenas se refere a cidade como mulher, mas se empareda na cidade, busca características suas no cenário contraditório, indefinível e conturbado da “pauliceia desvairada”.
Reside aí o motivo da ofensiva resposta “Futurista?!”. É certo que Mário de Andrade iria lançar Paulicéia desvairada, mesmo tratando-se de um relato por vezes íntimo (como o fizera com Há uma gota de sangue em cada poema). Incomodou ao poeta a exposição exagerada e o rótulo, ambos rejeitados pelo próprio.
Não fosse Paulicéia desvairada e, consequentemente, “Meu Poeta Futurista” e “Futurista?!”, Mário de Andrade provavelmente se manteria numa quase reclusão. Não haveria, portanto, Mestres do passado, e a Semana de Arte Moderna teria outra conotação. Diz Mário da Silva Brito (1974, p. 253):

“Paulicéia Desvairada” e “Mestres do Passado” representam dois momentos históricos nas letras nacionais, na poesia e na crítica brasileiras. Desde êsse instante, a liderança modernista é repartida entre Oswald e Mário – os Andrades do modernismo.

A exposição de “Tu” talvez fosse caso pensado de Oswald de Andrade. Sabendo da reclusão que Mário de Andrade impôs a si mesmo, Oswald teria forçado o talento do poeta para vir a público. Como um caminho sem volta, Mário de Andrade teve de aceitar a liderança modernista, mesmo sob a pena de ver sua cólera sendo exposta.
Era certo que Mário de Andrade vivia em contradição. A formação católica pulsava no poeta quase como uma dúvida existencialista: em “Futurista?!”, o autor assume sua fé religiosa (a sua e a do autor de “Tu”), “católicos de prática diária; somos ainda, ou seja, do que choram as muitas culpas que a imperfeição humana, com que universalizamos, nos permitiu praticar” (ANDRADE apud SILVA BRITO, p. 237).
Essa dúvida é ainda mais presente em “Carnaval Carioca” (1993, p. 44), quando a “frieza de paulista” se surpreende com a permissividade dos bailes de rua. Mário de Andrade reconhece a presença divina (“Meus Deus.../Onde que jazem tuas atrações?”), mas, não ironicamente, credita e agradece ao próprio Deus pela criação do pecado inerente ao homem (“Tu que inventaste as asas alvinhas dos anjos/E a figura batuta de Satanás;”)[4].
O próprio rompimento dos Andrade sinaliza o estado de contradição constante de Mário de Andrade. Raúl Antelo aponta: ao analisar O ateneu em “Aspectos da Literatura Brasileira”, Mário de Andrade não consegue disfarçar o incômodo com a “concepção pessimista” de um “homem dominado pelo mal, incapaz de vencer seus instintos baixos”. (ANDRADE apud ANTELO, p. 65).
Diz Raúl Antelo que esse incômodo se dá pela perturbação de Mário de Andrade com a questão homossexual:

Chamado por Oswald de Andrade de “Miss Brasil”, causa aparente do rompimento entre ambos os escritores, Mário de Andrade escreve, em crônica do Diário Nacional intitulada, precisamente, “Miss Brasil”, que, “um concurso de beleza é mais uma forma de sequestro, ou antes de derivativo, de sublimação”. (idem, p. 67).

Antelo ainda aponta que, por volta de 1929, o escritor inicia leituras sobre a temática homossexual, passando por Coulon, Nazier e Marañón.
O incômodo da exposição de “Tu” se completou pela exposição de uma cólera, de um íntimo de um Mário de Andrade até então recluso e sem a certeza de que teria aspirações em publicar suas obras, justamente por estas trazerem cargas tão fortes de seu íntimo.
“Tu” é, na verdade, muito mais sobre “Ele”, Mário de Andrade, do que propriamente a Paulicéia desvairada. Se Oswald de Andrade usou a literatura como relato psicanalítico, Mário de Andrade não soube dosar seu íntimo de sua escrita. Há, em cada poema, não apenas uma gota de sangue, mas uma parte incômoda de seu próprio autor.

Referências bibliográficas
ANDRADE, Mário de. De paulicéia desvairada a café. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.
_____________. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.
ANTELO, Raúl. Transgressão & modernidade. Ponta Grossa: UEPG, 2011.
CARVALHO, Lilian Escorel de. A revista francesa L´Esprit Nouveau na formação das ideias estéticas e da poética de Mário de Andrade. 2009, 132 f. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. São Paulo.
SILVA BRITO, Mário. História do modernismo brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.





[1] Em “Paisagem n°3”, Mário de Andrade “veste” a máscara textualmente: “Ali em frente... – Mário, põe a máscara!/ - Tens razão, minha loucura, tens razão” (1993, p. 99).
[2] Em “Paisagem n° 3”, Mário de Andrade volta à névoa e da relação da paulicéia com a capital britânica ao falar de “Minha Londres das neblinas finas” (1993, p. 99).
[3] Cita Antelo: “Em Poe, ele [Dermée] resgata o sentido de plano e de efeito para definir a beleza como construção e não como matéria, daí que o belo se equilibre entre construtivismo (memória) e ópio (esquecimento)”. (idem, p. 113).
[4] Interessante notar que, ainda em “Carnaval Carioca”, o poeta destila um quê de pessimismo quanto ao homem ao citar que, no fim da festa “Os corpos adquirem de novo as sombras deles”, como se viver em sombras fosse a normalidade da condição humana.