Tropa de Elite, por Ana Paula Such

Mais um filme seguindo o rastro de sucesso de tantos outros provindos de “adaptações” de livros. Não se faz necessário enumerá-los, basta apenas lembrar de pessoas conhecidas que, sem ao menos terem apenas “manuseado” a obra, sentem-se catedráticos no assunto, por simplesmente terem assistido o filme, e ainda, pasmem, têm a audácia de tecerem criticas a respeito. É o fim!

Mas, deixando essa breve divagação e voltando ao mote desta reflexão que é o filme Tropa de Elite, baseado na obra até que relativamente bem escrita, Elite da Tropa.

Um enredo pobre: um capitão que decide afastar-se de seu posto por descobrir que será pai e está sofrendo de síndrome do pânico, e precisa, urgentemente, encontrar um substituto a sua altura e que principalmente comungue de seu ideal anticorrupção. Descobre dois aspirantes com o perfil quase ideal e precisa treiná-los escolher entre um deles.

Caro leitor, um filme com este enredo dificilmente ganharia o “Urso de Ouro 2008” de Berlim. Agora agregados alguns elementos apelativos, o contexto muda de figura.

Primeiramente, o que salta aos olhos é a violência. Parece que os pseudo-apreciadores da sétima arte, que são inúmeros, têm-se vampirizado cada vez mais e filmes que não mostram cenas sangrentas são deixados em segundo plano. O que comentar de um treinamento subumano, onde um homem é exaurido em seu limite físico, psicológico e moral? E as invasões nas favelas onde a ordem é metralhar qualquer coisa que se mova? E as maneiras bizarras e extremamente cruéis de se conseguir uma confissão? E a contra defesa dos traficantes? Os súbitos desaparecimentos em foram de “queima de arquivo”? É chocante.

Este aspecto poderia ser exaurido em suas possibilidades de comentários e criticas, mas creio que no momento são bem-vindos apenas alguns pontos que levem leitores e expectadores a refletir.

Outro aspecto que julgo apelativo é a trilha sonora. Sim! A trilha sonora, baseada em quase toda sua totalidade no ritmo do funk. Como diria Wisnik, “um ritmo minimalista”, de fácil assimilação, associado às letras repetitivas por falta de conteúdo e riqueza lexical. Agreguem-se ainda cenas de um baile funk, ainda bem que as mais leves do que realmente “rola” por lá.

Um último elemento e não menos importante: um capitão Nascimento, que enverga graciosamente sua farda negra, tem um rosto bonito, corpo bem talhado, caindo nas graças do público feminino. Todavia, o público masculino não pôde eximir-se de elogiar a coragem, o arrojo, a força e a truculência deste oficial. Sem mencionar nas frases de efeito utilizadas por ele como “Pede pra sair” ou ainda “Seu fanfarrão” e outras palavras de baixo calão que vieram para ampliar o parco vocabulário de grande parte da população.

O único fato, a meu ver, que talvez justificasse o recebimento deste segundo maior prêmio cinematográfico, seria a superprodução deste filme, que não pode ser negada, considerando ser um filme nacional, sem toda a pirotecnia hollywoodiana.

Cabe-nos um balanço, tomando com exemplo este filme, mas podemos sem medo algum generalizar a ação perante todos os outros que seguem a mesma rota de mercado e sucesso certos; poucos lêem a obra de origem; muitos ingerem e regurgitam verdades prontas, poucos digerem e questionam. Infelizmente o saldo que se tem é que enquanto outros países são vistos como exemplos e berços culturais, nossa tão amada pátria verde-amarela é simplesmente vista como o país do futebol e do carnaval. Triste legado a ser herdado por nossos descendentes.